2009/04/16

OS RICOS QUE PAGUEM A CRISE

A justiça social continua a ser um mito perseguido e aguardado pelas velhas e novas gerações lusitanas.
De legítima aspiração, passou a mito e sempre cada vez mais longe dos cidadãos.
Da irracionalidade ingénua dos ideais revolucionários às políticas irresponsáveis e sem carácter estrutural de alguns governos, passando pelas medidas reformadores e economicistas de outros, em dezenas de anos de ditadura ou democracia, em monarquia ou em república, Portugal não conseguiu implementar um sistema de organização e funcionamento em que, da saúde à educação, da fiscalidade à segurança social, do trabalho ao desemprego, os cidadãos sentissem que a solução que lhes cabe é socialmente justa.
É consensual a ideia de que o sistema vigente cria aberrações que constituem autênticos atropelos aos mais básicos princípios constitucionais.
Há ricos que fiscalmente são considerados pelo Estado como pobres mas que exibem sinais exteriores de riqueza incompatíveis com a sua pobreza formal. Há pobres que burocraticamente são considerados ricos.
Aos primeiros aplicam-se as regras que tecnicamente visam os segundos, e a estes negam-se benefícios que a respectiva situação material deveria justificar.
Nas franjas, ficam os verdadeiramente registados como ricos que, para além de acederem a benefícios só compreensíveis para os mais carenciados, praticam com o consentimento do Estado, uma panóplia de estratagemas de evasão às suas responsabilidades para com a República. Tudo isto, lado a lado com a dita classe média, que por se encontrar amarrada ao Estado por via da sua dependência fiscal e laboral, com tudo apanha e tudo lhe é exigido em nome da solidariedade colectiva.
Feitas as contas, mais vale ser rico, parecendo pobre. Mais vale enganar o Estado do que ser enganado por este.
Mais do que nunca, e ideologias à parte, o slogan "os ricos que paguem a crise", teve tão apropriada aplicação.

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