A propósito dos recentes "ataques" de guerrilha, desencadeados contra a esquadra da PSP da Bela Vista, em Setúbal, não posso deixar de questionar, não apenas o frágil papel da PSP na sociedade portuguesa, evidentemente não por culpa dos seus efectivos, mas principalmente a ausência do Estado na vida colectiva nacional.
Os referidos acontecimentos, quaisquer que sejam os argumentos, são uma nódoa negra num Estado de direito moderno e democrático, pois, a Democracia não pode coexistir com a marginalidade, desde o crime de colarinho branco ao assalto à casa de velhos e pacatos cidadãos.
Aos criminosos não podem ser conferidos os direitos que negam aos outros durante a prática dos seus actos, sejam brandos ou violentos.
As Leis destinam-se a regular a nossa vida colectiva e sempre que isso não aconteça são perversidades políticas que devem merecer a indignação dos cidadãos.
A polícia tem que ser considerada na medida em que consegue garantir a segurança dos cidadãos.
O que está a acontecer é caótico e mostra a falta de qualidade da democracia em que vivemos e a mediocridade dos decisores que não garantem a segurança legítima dos cidadãos.
Porque um ladrão assaltante de caixas de Multibanco foi baleado, é um atentatório exercício de hipocrisia, culpabilizar a Polícia, que não obrigou o criminoso, lamentavelmente abatido, a roubar e assaltar.
Pergunta-se: se o marginal tivesse baleado o polícia, os defensores dos direito humanos teriam o discurso de condecorar o marginal? Para manterem a coerência teriam de o fazer!
As últimas décadas da história do Estado português, não foram, certamente, pródigas no que respeita à definição e estabelecimento de prioridades, que de forma sustentada e consequente, conduzisse a sociedade portuguesa a um patamar homogéneo e coerente de desenvolvimento económico e social.
Aliás, desde a epopeia dos descobrimentos, o Estado afundou-se num misto de contradições com incompetência, numa salgalhada de politiquices e de interesses duvidosos que numa perspectiva colectiva foi constantemente adiando o futuro do país, toldando uma mentalidade descrente e miserabilista que sempre nos arrastou para a periferia das esferas do progresso.
As esperanças geradas em Abril de 74, foram-se gorando nos anos subsequentes e o Estado, em nome de ideais defendidos por muitos de então, foi se ,prostituindo sem se aperceber que passado três décadas, são eles, os mesmos, os senhores do poder, que para o chão atiraram os ideias, e para o lixo os valores da igualdade, da justiça e da dignidade humana.
E o duro reflexo de tudo isto, está à vista.
É um Estado mal estruturado, incompetente e sem autoridade.
É um Estado, em excesso, pleno de democracia. Tão pleno que ele próprio não a consegue exercer, pois quase tudo se sobrepõe aos seus poderes.
É um Estado mal informado, deficientemente formado e muito ultrapassado.
É um Estado injusto, cego, incongruente e desmembrado.
É um Estado que confunde as prioridades sociais, com as económicas e financeiras, dando primazia às últimas, em detrimento das primeiras. Daí que sacrifique a dureza da realidade social ao conforto da engenharia estatística.
O Estado perdeu a guerra do poder democrático.
O Estado esvaziou-se de credibilidade.
O Estado ... perdeu-se.
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