2006/10/06

FELIZMENTE HÁ ALGO A ACONTECER

Depois de anos de marasmo originado pela célebre e injustificável, política de desenvolvimento harmonioso, a ilha de São Miguel, designadamente a cidade de Ponta Delgada, confronta-se com um movimento visionário pouco comum na nossa micro dimensão.A completa e profunda revalorização da parte nobre da orla marítima da cidade e consequente reconfiguração de toda a sua zona litoral, quer por via dos projectos da responsabilidade do executivo regional quer dos da competência da autarquia local, tem tido o condão de abanar os habitualmente cismados intelectos micaelenses.Note-se que o termo “cismado” aqui utilizado não tem qualquer sentido pejorativo. Apenas pretende qualificar o estado de letargia a que os açorianos têm sido submetidos pela política de paróquia dos seus governos e pela total ausência de visão da maioria dos seus governantes, a qual, por tão desprovida de novidade, atira-nos para um estado mórbido em que as funções da surpresa, do orgulho colectivo e da participação cívica estão de tal forma atenuadas que parece estarem suspensas, à espera de algo...Felizmente, há algo a acontecer! E note-se, é algo que nada tem a ver com a politiquice, ou com as novelas diárias dos canais nacionais, ou com as respeitáveis tradições profanas ou religiosas, ou com cintilantes mas cadentes estrelas pimbas, ou com incansáveis passeios higiénicos na Avenida Marginal, ou com a desgovernação dos governos, ou com o piercing escondido da filha da vizinha ou o carro novo do vizinho. Enfim, não tem nada a ver com nada daquilo que desgraçadamente nos consome diariamente a vida, embora se saiba que para muitos a vida sem tudo aquilo, não tem qualquer sentido.Finalmente, parece vingar um movimento visionário que refresca a nossa irremediável pequenez geográfica, e que vem certificar a razão de muitos que lançaram e projectam lançar obras e equipamentos, que pelas suas características únicas, empurram a sociedade para o futuro.Por isso, venham daí os aquários, os teleféricos, os pavilhões multi-usos, as scut, as marginais, os túneis, as pontes, as centrais de camionagem, as ciclovias, os parques temáticos, os espaços radicais, as marinas, as piscinas, os casinos, os spas, os hóteis, as discotecas, os centros culturais e tudo o mais que o mundo moderno oferece e que todos nós merecemos.Para isso, venham daí as ideias, os conceitos, a criatividade, a irreverência, as posturas despidas de hipocrisia e preconceito, a guerra contra a ignorância e postura miserabilista.É verdade que tudo isso tem um preço, mas para quem está habituado a pagar pelo não desenvolvimento e pelas constantes crises económicas do país, certamente que não se oporá a contribuir para a modernidade da sua terra e deixar aos seus filhos um testemunho de ousadia.Mais vale deixar aos nossos filhos a factura de uma obra feita do que migalhas de uma crise.

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